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Advogada, cansada da rotina, resolve escrever sobre suas viagens, rotinas, diálogos que mantém com sua mente que é, definitivamente, inquieta.

terça-feira, 6 de maio de 2014

SALVADOR DALI em PARIS


Acordei às 7hs, já são quase 9hs e eu ainda não fiz nada a não ser sentir uma saudade louca das pessoas que deixei no Brasil. Olho pra minha cama em desordem,  lembro-me de todos os exercícios de francês que tenho que fazer, sinto uma preguiça enorme...
Do sol que alegrava a tarde de ontem nem sinal, pela janela vejo uma manhã cinza e fria. Ruas vazias. A feira que acontece bem pertinho daqui está parada tal qual uma imagem fotográfica, fico perdida em meus pensamentos, tenho vontade de escrever, mas digitar pelo iphone realmente não é muito animador, sobretudo com um dedo só. É! Eu deveria aproveitar e treinar todos os outros dedos. Ah! Deixa pra lá. Pelo menos uso o indicador, pior seria se eu estivesse usando o dedo médio...lembro da frase de Dali, "Não se preocupe com a perfeição- você nunca irá atingi-la". Em sendo assim, melhor relaxar!
Compartilho uma música e outra e decido escrever sobre Ele. É, sobre a exposição de Salvador Dali no Centro Pompidou.
Eu tentei uma, duas, três e só assim consegui entrar. Valeu muito ter insistido. Salvador Dali sempre esteve à frente do seu tempo.
Logo na entrada, uma foto de Dali, nu e em posição fetal, dentro de um ovo. Que loucura!
Como não fiz a opção de visita guiada, por pura preguiça de enfrentar outra fila, peguei carona em um grupo de jovens idosos na faixa dos 70. Enquanto a guia explicava todas as loucuras que Dali retratava em seus quadros, eu aproveitava para ver a cara de espanto daquelas pessoas diante de membros enormes que Dali pintou, sobretudo diante do quadro O Grande Masturbador. Claro que eles não entendiam as coisas loucas que passavam pela cabeça de Dali. Afinal, nem ele mesmo entendia. O que ele queria era criar confusão para promover a criatividade e gerar vida.
Por todos os lados filmes e vídeos de Dali. No centro da exposição, um telão mostrava Dali falando ao público com um paletó repleto de pequenos copos com bebidas e canudinhos. Dali era caprichoso, trazia consigo bebida para ele e seus amigos e pensava até no canudinho. Fiquei pensando se Dali usou essa roupa quando foi conhecer Freud.
Fiquei sabendo que Dali perguntou ao Freud o que ele achava de sua obra e Freud respondeu: "quando eu vejo uma obra de arte, eu sempre procuro o inconsciente nela e na sua, eu só vejo o consciente.". Aff, não precisava de tanta sinceridade!
Mais alguns passos e olha ela ali. A Persistência da Memória, uma das obras mais conhecidas de Dali. Olhando aqueles relógios se derretendo, moles e flácidos, pensei em tantas coisas que uma falta de academia pode fazer, senti medo...rs. Se alguém me perguntar se vou esquecer essa imagem, vou responder com as palavras do próprio Dali, "ninguém poderia esquecê-la uma vez vista".
Ao avistar o famoso sofá vermelho, não pude evitar, sentei e tirei uma foto. Já pensou alguém criasse algo pensando em uma parte do seu corpo. A atriz conhecida por Mãe West deve ter ficado louca ao ver aquilo. Quem mandou ser sex symbol!
Pintar era uma parte infinitamente minuta da personalidade de Dali. Ele foi poeta, produtor de cinema, escritor e louco. Dizia que a havia uma diferença entre um louco e ele. O louco pensava que era sadio e ele sabia que era louco.
No outro canto da sala era projetado o filme Chien Andalou e a cena de um homem abrindo o globo ocular de uma mulher usando uma navalha, fez com que eu sentasse e assistisse tudo em preto branco e sem som.
Adorei ver um corpo feminino cheio de gavetas. Por sinal, as gavetas estão sempre presentes na obra de Dali, ele acreditava que o ser humano é formado por incontáveis gavetas que só podem ser abertas através da psicanálise. Ihh, tem algumas que nem Freud consegue abrir totalmente.
Já na saída da exposição, uma obra de Dali onde ele aparece refletido no espelho, pintando sua mulher Gala. Bastava encostar o rosto no vidro que protegia os dois quadros, para se ter a visão em 3D. As imagens se uniam e você podia ver a obra absolutamente concluídas, coisa que não era possível ver se estivesse de longe. De fato, Dali esteve sempre muito à frente de seu tempo e não precisou de uns óculos pretos horríveis para ter o mágico efeito 3D. Não foi à toa que Dalí foi expulso da Academia de Artes e declarou que ninguém ali era suficientemente competente para avaliá-lo. Dali só dizia a verdade, em todos os lugares há sempre um incompetente te avaliando!
Dali não precisava usar drogas para imaginar todas aquelas incríveis loucuras. Ele dizia ser a própria droga. É verdade! Sai da exposição viciada em Dali.  Durante quatro horas, fique ali viajando na personalidade viva, intrigante, erótica e louca de Dali.
Adorei ver o telefone afrodisíaco e a Vênus de Milo aux Tiroirs.
Não poderia deixar de citar o famoso bigode que ele usava e acho que não há no mundo uma pessoa que não o conheça. Dali morreu em 1989, viveu muito, porém muito pouco diante de sua genialidade!
Naquele dia experimentei tal qual Salvador Dali, um prazer supremo - o da existência!
 

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